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Dissertation
Geomorfologia fluvial e evolução quaternária da bacia do Mondego
(2009)
  • João A. Santos, University of Coimbra
Abstract
Este projecto de investigação conducente ao Doutoramento em Geografia  tem como objectivo principal o estudo da geomorfologia e sedimentologia  fluviais e da reconstituição quaternária do vale do rio Mondego. Este  estudo foi, na sua maioria, efectuado com base nos resultados obtidos  nos vales do Mondego e afluentes, mas os resultados de estudos  semelhantes efectuados noutros vales fluviais da região centro (ex;  Vouga e Lis) de Portugal serviram também como objecto de comparação no  estudo da evolução quaternária do vale do Mondego. Este estudo tem como  objectivos principais responder a questões importantes relacionadas com a  evolução quaternária do vale do Mondego e afluentes, tais como: 1)  Quais as características morfológicas e sedimentológicas dos depósitos  de terraço do rio Mondego e dos seus principais afluentes? 2) Qual a  organização dos depósitos fluviais no vale do Mondego e dos seus  afluentes? 3) Quais as variáveis responsáveis pela génese das principais  formas fluviais neste vale e nos seus vales afluentes? (climática?  tectónica? eustática?) 4) Existe algum paralelismo na evolução  quaternária entre o vale do Mondego e outros vales da região Centro (ex;  vales do Vouga e Lis)? 5) Existiu algum paralelismo na evolução  quaternária do vale do Mondego em comparação com outros vales fluviais  em Portugal e na Península Ibérica? 6) Em termos de geomorfologia, quais  são as características gerais dos vales fluviais presentes na bacia do  Mondego? 7) Que influência tiveram os factores estruturais na morfologia  dos vales fluviais presentes na bacia do Mondego? 8) E, finalmente,  qual foi a evolução dos paleoambientes na região centro de Portugal  durante as diversas fases do quaternário possível de detectar através  das formas e depósitos estudados? Com uma rede hidrográfica aproximada  de 6,772 km2 e um comprimento de 220 km, o rio Mondego é o maior rio com  origem portuguesa. Vários depósitos quaternários de origem fluvial, de  derrame torrencial e de vertente que se encontram presentes nos quatro  sectores (alto, médio-alto, médio-baixo e baixo) geográficos da bacia do  Mondego são aqui apresentados (SOARES et al. 1992, 1993, 1997, 1998;  CUNHA e SOARES, 1994). Um conjunto composto por um depósito de origem  fluvio-torrencial e dois conjuntos de depósitos de terraços fluviais que  se encontram presentes nas duas margens do vale do baixo Mondego foram  examinados, revistos e cartografados neste estudo. Aparentemente  correlacionados com estes, dois conjuntos de depósitos de terraço  fluvial, encontram-se também presentes nos vales dos rios Arunca e  Anços, ambos afluentes do sector vestibular do Mondego e nos vales do  Alva, Ceira, Dueça e ribeira de Mortágua todos afluentes do sector do  médio-alto e médio-baixo Mondego. A análise das formas e das unidades  sedimentares presentes revelou que o vale do Mondego possui uma história  fluvial quaternária muito interessante e complexa. Os depósitos de  origem fluvio-torrencial situados a cotas superiores aos depósitos de  terraço mais altos são, muito provavelmente, os depósitos quaternários  mais antigos presentes no vale do baixo Mondego. Estes são  essencialmente compostos por unidades conglomeráticas muito mal  calibradas e submaturas com código de litofacies Gmg e Gp e distribuição  bimodal na sua componente granulométrica. O conjunto de depósitos de  terraço mais elevado encontra-se presente nos vales do alto e baixo  Mondego, Alva, Ceira e Dueça e é composto por unidades conglomeráticas  muito mal calibradas e submaturas com código de litofacies Gp e Gt e  distribuição bimodal na sua componente granulométrica. O conjunto de  depósitos de terraço mais baixo que encontra-se presente nos vales do  alto e baixo Mondego, Alva, Ceira, Dueça, Arunca, Anços e ribeira de  Mortágua é, sem qualquer sombra de dúvidas, o corpo aluvial mais  interessante na rede de drenagem do Mondego. O depósito que lhe  corresponde é essencialmente composto por unidades conglomeráticas mal  calibradas e submaturas com código de litofacies Gp e distribuição  bimodal na sua componente granulométrica. Nos vales do baixo Mondego,  Arunca e Anços estas unidades conglomeráticas são cobertas abruptamente  por unidades de arenitos moderadamente calibradas e submaturas com  distribuição unimodal na sua componente granulométrica e com códigos de  litofacies Sp e Sr. Em alguns locais as unidades de arenito são cobertas  por uma unidade de lutito arenoso mal calibrada e imatura com  distribuição bimodal na sua componente granulométrica e com código de  litofacies Fm. A estratigrafia e a sedimentologia que se encontra  actualmente presente na bacia do rio Mondego parecem indicar que pelo  menos dois grandes ciclos de erosão e deposição, causados provavelmente  por oscilações eustáticas e climáticas, ocorreram durante o Plistocénico  Médio e Superior. O primeiro ciclo ocorreu muito provavelmente num  período de tempo entre o interglaciar de Mindel-Riss e o glaciar do Riss  e foi responsável pela construção dos depósitos de terraços mais  elevados. A sedimentologia destes grandes corpos aluviais parece indicar  que os rios Mondego, Dueça, Ceira e Alva possuíam na altura canais  entrançados relacionados com um regime fluvial fortemente torrencial. O  segundo ciclo ocorreu muito provavelmente num período de tempo entre o  interglaciar de Riss-Würm e o glaciar do Würm e foi responsável pela  construção do conjunto de depósitos de terraços mais baixo. A  sedimentologia destes corpos aluviais parece indicar que os rios Mondego  (no sector do alto Mondego), Dueça, Ceira e Alva e a ribeira de  Mortágua possuíam também na altura um canal entrançado e os rios Mondego  (no sector do baixo Mondego), Arunca e Anços um canal do tipo  meandriforme de algum modo semelhante ao Mondego actual. Estes dois  grandes ciclos ou ritmos climáticos parecem encontrar correlação com  dois depósitos de praias antigas relacionados com a evolução do estuário  do Mondego localizados na margem direita em Quiaios e na Praia da  Murtinheira e na margem esquerda em Lavos e Alqueidão (ALMEIDA et al.  1990; SOARES et al. 1992, 1993, 1997, 1998; CUNHA e SOARES, 1994)

The  main purpose of this project leading to a doctoral degree in Geography  is the  study of the fluvial geomorphology and sedimentology and the  Quaternary evolution of  the Mondego River. This study used data  obtained mainly from the Mondego valley and  its tributaries, however  data from similar studies conducted in other river valleys of  Central  Portugal (ex; Vouga and Lis rivers) was used to compare how the  Quaternary  evolution of the Mondego River valley occurred.  This study  also aims to answer important questions related to the Quaternary   evolution of the Mondego River such as: 1) What are the morphologic and   sedimentologic characteristics of the Mondego River and its tributaries  alluvial terraces?  2) How well organized are the fluvial deposits in  the Mondego valley and its tributaries?  3) Which variables were  responsible for the genesis of the main fluvial landforms present  in  this valley and its tributaries? (climatic? tectonic? eustatic?) 4) In  terms of Quaternary  evolution, there is any correlation between the  Mondego River valley and other river  valleys of Central Portugal (ex;  Vouga e Lis river valleys)? 5) In terms of Quaternary  evolution, there  is any correlation between the Mondego River valley and other river   valleys of the Iberian Peninsula? 6) What are the main geomorphic  characteristics of the  Mondego basin river valleys? 7) Was geologic  structure a main factor determining the  morphology of the Mondego basin  river valleys? 8) Finally, based on the landforms and  deposits  studied, how was the paleo-environmental evolution of Central Portugal  during  the different phases of the Quaternary?  With a drainage area of  6,772 km2 and a length of 220 km the Mondego River  situated in  west-central Portugal is the largest Portuguese born river. Several  Quaternary  fluvial and mass-wasting deposits that are present in the  four main geographic sectors  (high, mid-high, mid-low and low) of the  Mondego river basin are hear presented  (SOARES et al. 1992, 1993, 1997,  1998; CUNHA e SOARES, 1994).  A set of slope deposits and two sets of  alluvial terrace deposits are present on both  sides of the lower  Mondego valley and have been identified, mapped, and sampled. The  two  sets of alluvial terraces are also present on the Arunca and Anços river  valleys, both  tributaries located in the lower Mondego valley, and on  the Alva, Ceira, Dueça and  Mortágua river valleys all located in the  middle Mondego valley sectors. The analysis of  the sedimentary units  present in gravel pit and road cut exposures situated in these   landforms revealed an interesting and complex Quaternary fluvial history  in this valley.  The slope deposits are the oldest known Quaternary  deposits and are situated high  above the oldest terraces. These  deposits are mainly composed of massive sub-mature  poorly sorted gravel  units with Gmg and Gp lithofacie codes and with bi-modal grain size   distributions. The highest and oldest alluvial terraces present in the  Mondego, Alva, Ceira  and Dueça river valleys are mainly composed of  massive sub-mature poorly sorted gravel  units with Gp and Gt lithofacie  codes and with bi-modal grain size distributions.  The lowest and  youngest alluvial terraces present in the Mondego, Alva, Ceira,  Dueça,  Mortágua, Arunca and Anços river valleys are by far the most interesting  alluvial  bodies. These are also composed of massive sub-mature poorly  sorted gravel units with a  Gp lithofacie code and with bi-modal grain  size distributions. In the lower Mondego,  Arunca and Anços river  valleys these are overlaid by sub-mature moderate sorted and  bedded  sand units with Sp and Sr lithofacie codes with unimodal grain size  distributions.  In some locations, an immature poorly sorted silt unit  with an Fm lithofacie and a bimodal  grain size distribution overlies  the upper sand units.  The present day alluvial stratigraphy of the  Mondego river valley indicates that at  least two cycles of aggradation  and downcutting caused mainly by eustatic sea level and  climatic  changes occurred during late Pleistocene times. The first cycle occurred  most  likely during Mindel-Riss and Riss times and was responsible for  the genesis of the oldest  terraces. The sedimentology of these alluvial  bodies indicates the presence of a braided  stream environment with a  strong torrential regime in the Mondego, Ceira, Dueça and  Alva river  valleys.  The second and last cycle occurred during Riss-Würm and Würm  times and was  responsible for the genesis of the youngest terraces.  Their sedimentology indicates the  presence of a braided stream  environment in the Mondego (high sector), Ceira, Dueça,  Mortágua and  Alva river valleys and a meandering river environment very close to the   present day Mondego on the Mondego (lower sector), Arunca and Anços  river valleys.  These two great eustatic and climatic cycles seem to  find correlations with two  sets of marine terrace deposits (related  most likely with the Quaternary evolution of the  Mondego estuary)  present in Quiaios and Praia da Murtinheira both located on the    northern margin of the lower Mondego valley and on Lavos and Alqueidão  both located  in the southern margin (ALMEIDA et al. 1990; SOARES et al.  1992, 1993, 1997, 1998; CUNHA e SOARES, 1994)
Publication Date
2009
Degree
PhD
Department
Geography
Advisors
Lúcio Cunha
Citation Information
João A. Santos. "Geomorfologia fluvial e evolução quaternária da bacia do Mondego" (2009)
Available at: http://works.bepress.com/joao-santos/9/