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Book
Amazônia, Currículo e Relações Internacionais: Estudo na Universidade Federal de Roraima
(2022)
  • Prof. Dr. Elói Martins Senhoras, Federal University of Roraima, Brazil
Abstract
A Amazônia atrai a atenção de todo o mundo, especialmente em  razão  dos  interesses  relacionados  às  mudanças  climáticas.  No entanto,  pouco  se  fala  dos  povos  amazônicos,  dasua  voz,  do  seu direito  à  participação  política  na  tomada  de  decisões.  Pensar  a Amazônia Brasileira nessa perspectiva é o grande mérito desse livro que ora  apresentamos. Ao realizar essa pesquisa,  Jeffeson  William Pereira  foi movido pelo reconhecimento daimportância dos povos amazônicos  na  construção  da  sustentabilidade  em  todas  as  suas dimensões, cultural, ambiental, política.
Nesse texto, o leitor é convidado a refletir sobre a formação de profissionais bacharéis em relações internacionais e os impactosdessa   formação   na   defesa   dos   interesses   da   Amazônia.   Que Amazônia se estuda? Como esses profissionais são preparados para atuar na defesa dos interesses dos povos amazônicos? Para responder essas  perguntas  o  livro  apresenta  resultados  de  uma  pesquisa  que investigou como os temas amazônicos e a Amazônia estão presentes no  ensino,  na  pesquisa  e  na  extensão  e  como  são  representados na proposta  curricular  e  na  literatura  que  integra  o  projeto  político pedagógico.
É  relevante  estudar  a  defesa  da  Amazônia  no  contexto  das relações   internacionais   uma   vez   que   esse   tipo   de   inserção profissional  de  egressos  de  cursos  de  bacharelado  em  relações internacional exige uma formação sensível às demandas dos povos amazônicos.  É  preciso  atenção  aos  reflexos  do  sangrento  processo de  colonização  e  ocupação  desses  territórios  que  resultaram  na dizimação  de  diversas  comunidades  indígenas,  desarticulaçãodo modo  de  vida  ribeirinho,  objetificação  da  mulher  amazônida  que repercutem  até  hoje  nas  sociedades  amazônicas.  Desigualdades sociais, educacionais, de comunicação, transporte acesso a serviços de saúde, saneamento entre outros direitos básicos são indicativos da frágil  presença  do  Estado  e  de  políticas  públicas  consistentes destinadas  à  região.  Há  um  frágil  reconhecimento  disso quanto  se discute o ‘fator amazônico’ quando se implementam debates sobre os  altos  custos  de  execução  de  políticas  públicas  no território amazônico.
O  reconhecimento  da  diversidade  e  singularidade  da  região não   são   plenamente   compreendidos   pois  as   discussões   sobre mudanças  climáticas  e  defesa  do  meio  ambiente  em  sua  grande maioria  reproduzem  perspectivas  colonizadoras,  são  outros que definem  o  que  necessitamos.  Organizações  locais  nem  sempre  são ouvidas ou possuem possibilidades de organização e expressão, seja no  contexto  local  ou  global,  para  apresentar  demandas  e  realizar incidência política. Assim, precisamos refletir sobre quais tem sido as  contribuições  das  universidades  amazônicas  para  a  defesa  da Amazônia.
Essa reflexão não tem a intenção de culpabilizar universidade locais,  mas  produzir  reflexões  sobre  o  compromisso  social  destas instituições.  Ensino,  pesquisa  e  extensão  têm  enorme  potencial  de produção de conhecimentos e reconhecimento de saberes locais, de preservação de culturas e práticas sociais, de proteção ao patrimônio cultural, ambiental, humano da região amazônica.
A    oferta    de    uma    formação    superior    embasada    em perspectivashistórico-críticas  é  defendida  nesse  livro.  Não  basta estudar a Amazônia é preciso reconhecer o protagonismo e a luta dos povos que aqui vivem, compreender os complexos processos sócio-históricos de constituição desse território para situar o seulugar no país  e  no  mundo.  É  dessa  perspectiva  que  este  trabalho  produz contribuições para a formação em Relações Internacionais,a partir do  estudo  de  um  curso  de  Bacharelado  de  Relações  Internacionais de uma universidade pública federal localizada na Amazônia. 
Compreender como a Amazônia é apresentada na literatura e sua articulação com as Relações Internacionais é tarefa urgente para a  produção  de  políticas  de  Estado  comprometidas  com  os  povos amazônicos.   Não   haverá   desenvolvimento   sustentável   sem   as pessoas  e  esse  é  um  ponto  de  partida  para  a  construção  de  ações políticas no âmbito internacional em prol da Amazônia Brasileira.
A   dinâmica   curricular   envolve   compreender   como   os conteúdos  são  trabalhados  ao  longo  de  um  curso  superior,  o  que expressam   as temáticas   dos   projetos   de   pesquisa   e   extensão realizados em uma universidade. No caso em particular as temáticas mais  recorrentesforam  a  migração,  o  refúgio  e  o  deslocamento forçado,     principalmente     decorrentes     da     crise     humanitária relacionados à situação da Venezuela. O trabalho aponta que outros temas  também  devem  ser  priorizados,  pois  eles  ajudam  a  entender os reflexos de fenômenos globais na região Amazônica.
Como aliar a proteção ao meio ambiente e o desenvolvimento local   é   um   dos   desafios   que   ainda   não   foram   efetivamente enfrentados.   Políticas   compensatórias   expõe   e   fragilizam   as comunidades locais que continua sem assistênciaapropriada e sem os  recursos  a  que  tem  direito  como  cidadã(o)s  brasileira(o)s.  A pandemia  da  Covid-19  escancarou  essa  questão ao  mostrar  que povos  indígenas,  ribeirinhos  e  quilombolas  da  Amazônia  sofreram mais  impactos  produzindo  proporcionalmente  mais  mortes  e  uma imensa desassistência à saúde.
Os   índices   de   desmatamento   têm   batido   recordes,   a desarticulação  das  instituições  fiscalizadoras  do  desmatamento  e  o afrouxamento  da  legislação  tem  feito  avançar  os  garimpos  ilegais que  ao  mesmo  tempo  que  contaminam  rios  e  destroem  o  meio ambiente,  matam  e  violentam  de  diversas  formas  as  pessoas que residem   nessas   áreas.   Reconhecemos   o   grande   potencial   das universidades  na  produção  de  conhecimentos  que  podem  subsidiar políticas que promovam mais equidade na região e possam colocar em  xeque  as  propostas  desenvolvimentistas  que  não  consideram  a defesa e o cuidado com a população.
A  defesa  da  Amazônia  no  cenário  internacional  depende dessas sensibilidades. No entanto é precisa considerar que a defesa da Amazônia se alia a outra luta pois, universidades federais carecem de investimento e reconhecimento. Estamos, portanto, diante de um duplo desafio que envolve ao mesmo tempo o fomento à participação política dos Amazônidas e a promoção de uma formação libertária no  contexto  dos  cursos  de  relações  internacionais.  Precisamos amazonizar  as  políticas,  as  universidades,  a  formação  aprendendo com  os povos  amazônicos  a  força  do  coletivo.  Essas  conquistas somente    serão    possíveis    com    investimento    público,    mas essencialmente qualquer esforço nessa direção não pode prescindir da participação dos Amazônidas. Por isso reafirmamos a luta é pela Amazônia, com Amazônidas!
Keywords
  • Amazônia,
  • Currículo,
  • Educação,
  • Relações Internacionais
Disciplines
Publication Date
May 27, 2022
Publisher
Editora IOLE
ISBN
978-65-996308-3-5
DOI
https://doi.org/10.5281/zenodo.6607529
Citation Information
PEREIRA, Jeffeson William. Amazônia, Currículo e Relações Internacionais: Estudo na Universidade Federal de Roraima. In: SENHORAS, Elói Martins (editor). Série: Educação. Boa Vista: Editora IOLE, 2022, 309 p.
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